A revista Mozbusiness, na senda de saber as razões e o processo pelo qual algumas empresas entram para a Bolsa de Valores, teve uma conversa com o Presidente do Conselho de Administração da Tropigalia, Ivan Pereira. A empresa de distribuição, com quase 30 anos de vida e que vive e respira as suas marcas diariamente, fez a sua primeira Oferta Pública de Subscrição em 2022. Quisemos saber como tudo aconteceu e o que mudou em termos organizacionais para esta empresa 100% privada que procurou com a sua adesão à Bolsa o acesso a capital isento de custos. HELGA NUNES (entrevista) . DINO VALETA (fotos) No que consiste a empresa e a marca Tropigalia, actualmente? A Tropigalia tem a sua génese na distribuição de produtos, sejam eles alimentares ou não alimentares, e mantém-na até hoje. No entanto, não nos consideramos uma empresa de distribuição comum, diferenciamo-nos por sermos uma empresa que “vive as marcas”, ou seja, trabalhamos as marcas e as elevamos ainda mais, investindo em publicidade, divulgação e promoção junto aos consumidores. Que factores levaram a Tropigalia a aderir à Bolsa de Valores de Moçambique? O desejo da entrada da Tropigalia na Bolsa de Valores de Moçambique é antigo, remonta a 2017, altura em que se iniciaram os primeiros contactos com a Bolsa de Valores de Moçambique. Devido a variadas circunstâncias esse desiderato só se materializou no ano passado, altura em que fizemos a primeira Oferta Pública de Subscrição de uma empresa 100% privada, ou seja, sem que o Estado moçambicano fosse accionista. Os motivos prendem-se essencialmente com transmitir aos nossos parceiros a imagem de que somos uma empresa preocupada em demonstrar que fazemos tudo de forma transparente e, por isso, não temos a preocupação em nos expormos perante a opinião pública, trazendo com isso uma maior credibilidade, projecção e reconhecimento da nossa empresa. Por outro lado, surge a intenção de estender a nossa base accionista a um número maior de investidores (incluindo trabalhadores) e de atrair desta forma investidores com variados perfis que permitam a empresa, por exemplo, enfrentar momentos de maior adversidade de forma mais robusta. E os motivos englobam ainda a necessidade de acesso a capital isento de custos e fomentar a adopção do mercado de capitais moçambicano, uma vez que há muito poucas empresas moçambicanas que aderem a esta ferramenta de financiamento/investimento. Quando é que foi aberta a subscrição da Tropigalia para a BVM? A Oferta Pública de Subscrição ocorreu entre os meses de Outubro e Novembro do ano passado, tendo a liquidação financeira ocorrido ainda durante o mês de Novembro e a admissão à cotação na BVM em Dezembro do mesmo ano. O que envolveu o processo de preparação e de obtenção de requisitos para aderir à Bolsa? O processo de preparação de uma oferta pública é um processo relativamente complexo e um pouco demorado para quem pretende seguir todos os procedimentos exigidos pelas boas práticas internacionais para este tipo de operações. O primeiro passo passa pela contratação de um Coordenador Global, que é uma instituição financeira. A nossa escolha recaiu no Banco BIG Moçambique, que, embora seja um banco de expressão mais discreta no mercado moçambicano, é a instituição financeira mais especializada que o nosso mercado tem para este tipo de operações. Por imposição do Banco BIG Moçambique, tivemos que: contratar uma empresa de auditoria externa (KPMG) para que fizesse um “due diligence” financeiro às nossas contas (pese embora a Tropigalia tenha sempre, desde a sua criação em 2004, sido sujeita a auditorias feitas por auditores independentes e externos) e contratar um escritório de advogados (CGA) para que fizesse um “due diligence” legal, onde incluía fazer alterações estatutárias para acomodar tanto a entrada da Tropigalia na Bolsa de Valores de Moçambique como para preparar a empresa para responder ao novo código comercial. Visto que a Tropigalia tem internamente uma equipa robusta de comunicação, desenhamos e implementamos uma estratégia de comunicação que permitiu dar a conhecer a empresa e a esclarecer a oferta pública. Sob proposta ainda do Banco BIG Moçambique, convidamos alguns bancos a fazerem parte do sindicato de colocação, tendo resultado na criação de um sindicato de colocação composto pelos bancos BIG Moçambique, Standard Bank, Absa e FNB. E existem depois um conjunto de procedimentos que tanto o supervisor do mercado, o Banco de Moçambique e a Bolsa de Valores de Moçambique exigem para este tipo de operações e que o Banco BIG Moçambique, enquanto coordenador global da operação, teve de acautelar. A Tropigalia está a investir numa plataforma ou num parque próprio em Marracuene, um sítio onde irá instalar as empresas do Grupo. Até que ponto conseguiu o financiamento através da Bolsa de Valores para essas e outras infraestruturas? A Tropigalia não é um grupo, caminha para isso, mas ainda não o é. Somos uma empresa unicamente de distribuição, pese embora tenhamos 70% de participação numa empresa satélite que nos presta serviços de transporte quase que exclusivamente – a Tropitex SA. Dada a evolução da taxa de juro que temos assistido neste ano e no final do ano passado, a estratégia de financiarmo-nos com recurso a capitais próprios através de uma oferta pública de subscrição, mostrou-se muito acertada. Essa possibilidade de nos financiarmos sem ter acoplado juros permitiu à empresa manter o rumo traçado para a expansão da nossa operação através da construção de novos centros de distribuição de qualidade elevada e que respondem às boas práticas internacionais e exigências de empresas nacionais e internacionais que buscam parceiros preocupados com o cumprimento destes requisitos. O projecto é ambicioso, uma vez que antevê a construção de centros de distribuição e armazéns espalhados pelo país inteiro e ainda estamos no primeiro – Maputo. Portanto, ao longo dos próximos anos, mantemos o interesse em procurar novos financiamentos para o crescimento do nosso negócio e a subscrição pública é uma opção sempre a considerar. A primeira OPS correspondeu às suas expectativas? Sim. Entendemos que fomos pioneiros neste tipo de operações dadas as nossas características – empresa sem participação do Estado moçambicano. Tivemos mais de mil